Peça Paz

 



Eu estava tomando um café na loja de conveniência de um posto onde paro toda semana para ter um momento diferente em meio à rotina, quando vi um cara em pé, falando comigo. 


Desliguei o celular na hora, encerrando uma ligação a trabalho e ouvi o homem perguntar se aquele carro era meu. Olhei para onde ele apontava e sinalizei que sim. Imediatamente surgiu um policial atrás deste cara e começou a gritar comigo no meio da loja lotada. “Eu entrei perguntando de quem era aquele carro e você não respondeu por que, rapaz?!”. Disse que não ouvi porque estava numa ligação a trabalho e pedi desculpa. Ele continuou, agora gritando ainda mais alto: “Ah você estava em uma ligação a trabalho e você acha que eu estou aqui fazendo o que? Matando o tempo?”. Não respondi. “Eu tinha vindo ver quem era o dono para pedir para tirar o carro dali numa boa, mas agora você vai tomar uma bela multa por ter estacionado ali!”. Eu continuei sem responder. Coloquei minha bandeja no balcão da padaria, como sempre faço, e a atendente do caixa, super constrangida, assim como todos os outros na loja por conta da tratativa desproporcional do policial, pediu para eu ir até o caixa ao lado que ela me passaria na frente dos demais. Paguei e saí com o tal policial me olhando feio, claramente esperando que eu dissesse algo para ele poder crescer ainda mais em cima de mim e sabe lá Deus fazer o que mais ele poderia - ou adoraria - fazer.

 

Entrei no meu carro, que estava onde eu sempre parei por não ter vagas livres no posto naquele horário da manhã. O local é ao lado da área de calibração de pneus, sem atrapalhar ninguém, porém, não tem sinalização de faixas para estacionar - da mesma forma que não tem sinalização de ser proibido estacionar. Muitos carros estacionam todos os dias ali, um ao lado do outro para o pessoal poder pegar pão ou tomar um café. Inclusive havia um outro lá quando cheguei e parei ao lado, mas o tal oficial da lei claramente queria mostrar como ela era “bom” no seu trabalho e eu fui a prova social que ele parecia precisar para se afirmar.

 

No caminho para o trabalho, não senti raiva nem pena, juro que senti compaixão. Fiz uma oração pelo policial e desejei de todo o meu coração que ele encontrasse a paz que ele parecia precisar.
 

Cada dia mais vejo que é disso que as pessoas, que eu, que o mundo precisa: paz. Não chego a falar da proporção de paz que chega a evitar ou encerrar grandes guerras – apesar de necessária também. Mas daquela pequena paz do dia, do momento, daquele segundo em que a gente se desestabiliza pela falta dela. 


Do que adianta a saúde, se não há paz? Se um dia eu tiver um câncer, peço que eu tenha paz para lidar com isso, aprender o que for preciso e então me curar. Ou morrer. Mas em paz.

 

A ansiedade tem deixado muita gente doente. O excesso de informações, de autocobranças e pensamentos também, justamente por gerar ansiedade nas pessoas.

  

Por isso, eu desejo paz, cada vez mais. Paz para saber lidar com os ansiosos. Paz para, quem precisa, saber esperar por uma mensagem sem sofrer por isso. Ou ficar bem, caso a mensagem não chegue naquele dia e horário esperado. Paz para confiar que o melhor está por vir - e que o melhor já está acontecendo neste exato momento. Para deixar ir quem precisa partir. Para que o outro aprenda aquilo que ele ainda precisa descobrir. Para que a gente entenda sempre a melhor forma de agir. Para que o policial um dia saiba dar o recado sem precisar agredir.

    


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