Meu celular despertou. Programei para não dormir demais.
Quero aproveitar o dia. É raríssimo eu me sentir assim, mas estou tão tranquila...
Minha ansiedade se vai sempre que ele vem porque essa se tornou minha
necessidade.
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Que
delícia acordar com esse cheirinho de pão feito em casa. Vou bem devagar até a
cozinha, mas não o vejo. Oi, dona Conceição. Cadê o Mariano? Oi, Su. Recuperada
daquelas caipinhas? Estou fazendo uns pãezinhos para tomarmos café da tarde. O
Mariano saiu sem falar para onde ia, mas já deve estar voltando, deve ter ido fazer
alguma coisa para o jornal.
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A mãe do
Mariano é tão doce. Em anos de namoro, é a primeira vez que viajamos com ela.
Para quem deu azar com a sogra, eu só lamento porque a minha é foda! Gentil. Sábia.
Na dela.
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Praia.
Sol. Caipirinhas e uma porçãozinha caprichada eram tudo o que eu precisava nesse
primeiro dia de férias. Pelo jeito o Mariano não quis me acordar para eu poder
descansar. Vou tomar um banho enquanto isso pra curtirmos nossa noite por aí,
pois a dona Conceição já disse que hoje ela prefere ficar por aqui.
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Vem, Su!
Tô enchendo sua caneca de café! Obrigada... Dou uma beiçadinha e esse cafezinho
me traz aquele aconchego do qual eu começo a sentir falta. Dona Conceição, que
hora o Mariano saiu? Uai, foi logo que você dormiu.
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Já faz
quase duas horas, então. Ele não atende o celular nem responde minhas mensagens.
Vem, Su, vamos assistir a novela, ele já deve estar chegando. Sento no sofá,
mas minha cabeça não para. Minha serenidade já foi parar em uma caixa para
caridade.
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Mariano é
jornalista, mas também está em férias. Não iriam pedir algo pra ele, a menos
que fosse urgente. E, se fosse importante, ele teria avisado, com certeza. Dona
Conceição, vou até a orla ver se ele está por lá. Ai, Su, cuidado, tá
escurecendo.
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Passo a
pé por todos os pontos beira-mar e não o encontro. Ligo novamente e ele não
atende. Vou passar naquela surf shop em que ele gostou de uma camiseta, deve
ter resolvido voltar para comprar.
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Entro e
não o vejo. Oi. Boa noite, Elenice (leio o nome da vendedora em seu crachá).
Você viu um cara, tipo, mais alto que eu, de topete, usando regata branca e bermuda
jeans? (Ele só trouxe essa bermuda e duas dessas camisetas). Nós passamos aqui
hoje cedo e ele gostou daquela de gola em v (aponto para a vitrine). Não, moça,
a única pessoa que entrou aqui depois do almoço foi uma velhinha perguntando
onde tinha um caixa eletrônico.
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Saio
desnorteada. Onde eu ainda vou para procurá-lo, assim, sem saber de nada? Ligo
novamente, dá dois toques e a ligação cai. Tento de novo. Chama uma vez e cai.
Não é possível. Ligo outra vez e agora a ligação vai direto para a caixa de
mensagens. Deus do céu! Ele foi roubado! Paro congelada na calçada e começo a
ficar surtada.
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Volto
correndo para a casa que alugamos. Durante o caminho, paro em cada sorveteria
para olhar se ele está porque o Mariano tem dessas viajadas de ter seus
momentos sozinho.
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Nada. Na
última esquina antes de entrar no quarteirão da nossa casa, vejo uma viatura da
polícia com as luzes acesas e, sem saber mais o que fazer, penso em parar para
perguntar se podem me ajudar em algo. Eu nunca fiz isso. Eu nunca passei por
algo assim. Eu tento parar e pensar, mas eu já não me sinto em mim. Cadê esse
cara?! O que aconteceu com ele?!
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Chego
descabelada. Oi, meu nome é Susanie, eu não sou daqui e nem sei se você pode me
ajudar, mas, meu namorado sumiu. Foi o máximo que consegui elaborar porque
estou ofegante de tanto que já andei. Calma, moça, vamos fazer o possível para
te ajudar. Faz quanto tempo que ele sumiu? Quase quatro horas...
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