Su-Surtos | Senta que lá vem story

 


Tá vendo a minha tela? Se eu ganhasse dois reais cada vez que ouço essa pergunta, eu já viveria dos aluguéis das minhas doze casas. Durante as mais de dez horas de trabalho que passo no umbral, chego a ouvir isso, no mínimo, de hora em hora, igual ao resultado da Tele Sena nos anos noventa – aliás, eu, como a publicitária selvagem que gostaria de ser, teria adorado trabalhar em criações tão sem filtro como as da década da Boquinha da Garrafa.

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Depois de o meu tio Vlad ser cremado, deixei o pensamento em rima de lado. Pra mim tá tudo meio aleatório. Um pouco disso é porque, no dia em que velei meu padrinho, meu ex-namorado ressurge todo atencioso para então me nocautear com seu Troféu Vagina.

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Muriel, namorando. Definitivamente é tudo mais fácil para os homens. Ou o problema é a carência da mulherada que topa qualquer pasmaceira peniana. Ou os dois em uma soma que define o funcionamento do relacionamento hétero-universal.

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Se eu estou desorientada, a gerente conduzindo essa reunião só deve saber de cabeça a data do retoque de suas luzes. Marquei essa reunião no Google Méti porque o meu Zoom não está funcionando. A fofa é gerente de marketing e sua pronúncia – ou conhecimento - de qualquer ferramenta digital funciona tanto quanto seu Zoom neste momento. Clara, chama Google Meet, a pronúncia é míti. Fiz questão de interromper e corrigir a múmia. Ah, beleza, obrigada, Susanie. A única coisa clara sobre a Clara é que claramente ela não serve para ser gerente. De nada.

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E aí pensei em fazermos um rístori no Instagram... Oi, Clara. É story que fala. Sabe igual ao nome do filme do boneco cowboy que tem ciúme do boneco astronauta por ele ser popular com os outros brinquedos e se tornar o favorito do menino que é dono deles? Sabe que filme é? Então... Toy is-TÓ-ry. É o mesmo do Instagram que você falou...

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A sensação que fico é que a reunião de quarenta minutos durou uma quarentena. Fico pensando: como um ser como a Clara chega ao cargo de gerente de marketing? Prefiro pensar que é o destino de cada um, o aprendizado de cada um, inclusive dos que estão em volta. Su-super evoluída eu, né?

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E o encontro de hoje, Sussy, qual a expectativa: transa, mata ou casa? Pauli não perde a chance de acompanhar DE-PER-TO cada tentativa minha de encontrar um cara interessante. Pauli, quero comer algo prático, talvez pizza, para, se o SEM-OR permitir e meu tio Vlad ajudar de onde quer que ele esteja, eu transar com o Experimento 1, mesmo sendo nosso primeiro encontro. É o que preciso para agora, me distrair. Vai lindamente, sua fabulosa! Pauli me apoia em tudo, ainda mais sobre o uso e descarte de homens. Há tempos decidiu que namoro não é pra ela e que casamento é se deitar enquanto a vida te afoga no cimento. Mantém o que ela chama carinhosamente – e absurdamente – de mailing, contatos bem trabalhados para ela transar quando quiser. E só. O resto é Pauliana por Pauliana. Tipo Pauliana ao quadrado.

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Apesar de ter tido alguns relacionamentos, tio Vlad também foi sempre emocionalmente independente. Será que eu consigo experimentar isso? Desde a morte do meu padrinho, apelidei cada novo contatinho como Experimento.

O encontro de hoje está marcado há uma semana. Papo diário e delicinha com o fofo, psicólogo, sócio de uma dessas empresas cafonas de coaching – será que a Clara sabe pronunciar isso?

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WHATSAPP há 2m

Experimento 1

Bom dia, Su. Eu preciso te contar uma coisa antes de nos vermos hoje.

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(Episódios novos toda terça e quinta aqui no site e no Instagram)

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