Su-Surtos | Interessado, porém, surtado




Se não fosse pelo teste de resistência vivido com o Muriel quando ele me abraçou para me consolar e me soltou para me derrubar ao dizer que está namorando, talvez eu tivesse um derrame com esse TEASER enviado pelo Experimento 1 a poucas horas do nosso primeiro encontro.

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Eu preciso te contar uma coisa antes de nos vermos hoje. Contar o que, gente? Decorei cada letra da mensagem e ainda não decidi se prefiro ficar cega para não ler o que vem a seguir ou cotoca para não conseguir digitar uma vírgula em resposta àquilo.

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Printei. Pauli. Enviei.

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Ele deve ser bissexual. Ou pansexual. Ou penta, tetra. Algo assim. Não consigo acompanhar essas expressões que parecem títulos de quem ganha campeonato. Pauli sempre me faz rir com sua praticidade, inclusive pela agilidade em responder minhas mensagens. Sussy, toma: Pode falar. Copia e cola isso, já escrevi por você, é só enviar, querida.

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Enviado. Recebido. Digitando. Digitando... Digitando... Só falta levar esse tempo escrevendo e vir um emoji. Nas conversas com a minha mãe é sempre assim. Dona Vald leva cinco minutos digitando para enviar aquela mulherzinha em pose de dança com um vestido vermelho.

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Chegou. Então, Su, é que eu já te conheço.

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Oi?! De onde? Pensei. Não mandei. Será de alguma das aulas de educação física junto com outra sala quando faltava professor? Talvez da catequese que nunca prestei atenção. Será que ele também trabalha no umbral?! O umbral é enorme, gente, tem lugar pra todo mundo.

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Ele continuou... Te conheço, mas não pessoalmente. Mas te conheço melhor que muita gente, melhor do que você imagina.

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Olho embaixo da minha mesa para ver se ele estava ali. Passei a mão no meu cabelo para ver se tinha alguma escuta plantada, mas só encontrei algumas pontas duplas. De repente pensei que talvez ele estivesse morando embaixo da minha cama. Eu nunca olho lá a não ser que perca um pé de chinelo.

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Sério? Ah, que bacana! Me conta mais sobre isso. Respondi enquanto minha pálpebra pulava de nervoso como se eu estivesse com a cabeça para fora da janela de um carro em uma rodovia a duzentos quilômetros por hora.

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Gravando áudio. Gravando. No topo da minha tela aparece Experimento 1 está gravando...

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Play: Vou gravar áudio porque é melhor... (som de risadinha sonsa). Quando falo que já te conheço, é verdade. Sei que sua série favorita é Modern Family, que a banda que você mais ouve é The Teskey Brothers e que você nunca come abacaxi porque te dá aftas enormes. E sei de tudo isso, mesmo com seu Instagram sendo Privado e eu não tendo acesso. Sim, eu já entrei pra tentar te ver por lá também (ele ri meio orgulhoso, meio doentio). Além dos seus gostos, conheço o teu jeito. Sei que você não ri de qualquer coisa, mas que seu sorriso é contagiante e que sua gargalhada é deliciosa sempre que assiste ao tombo de alguém. Até o seu jeitinho meio impaciente eu já tô louco pra presenciar e te acalmar. Só falta mesmo nos vermos.

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Como pode me conhecer tão bem? Eu não conseguiria gravar áudio no estado que estou. Mas preciso saber. Que sensação bizarra. Com muito esforço e sem fazer questão de mostrar charme, enviei: como sabe de tudo isso?

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Dessa vez ele enviou por escrito. Então... Kkkkkk. É uma história muito boa! Acontece que mês passado ministrei um treinamento sobre Autossabotagem e um dos meus alunos foi o Muriel, seu ex-namorado. Ele falou muito de você entre os exemplos que peço nos exercícios e os cafés comigo nos intervalos. Ficamos amigos. Ele realmente fala muito e muito bem sobre você. Comecei a me fascinar. Encontrei seu nome em uma postagem antiga dele. Te procurei no aplicativo e aqui estou, muito interessado, diria até que apaixonado.

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